A história da Victoria's Secret: Como a marca se tornou um símbolo de poder feminino
- Mahyana Nascimento
- 14 de out. de 2024
- 9 min de leitura
Atualizado: 12 de jul.
Explore a trajetória envolvente da Victoria's Secret, desde sua fundação visionária até se tornar um ícone global da moda íntima, revolucionando padrões de beleza e enfrentando desafios que moldaram sua identidade ao longo dos anos.
A história da Victoria’s Secret é mais do que uma simples trajetória empresarial — é um verdadeiro espelho das transformações culturais e sociais que redefiniram o conceito de sensualidade feminina nas últimas décadas. Do luxo acessível às passarelas que paravam o mundo, a marca se tornou sinônimo de desejo, glamour e fantasia.

Mas por trás das asas, lingeries e holofotes, há uma narrativa marcada por reviravoltas, críticas intensas e um esforço recente para se reconectar com o que realmente importa: as mulheres reais. Neste artigo, vamos mergulhar na ascensão meteórica, nas quedas impactantes e na reinvenção de uma das marcas mais icônicas da moda mundial. Prepare-se para conhecer todos os bastidores dessa história fascinante.
O fundador da Victoria's Secret: Roy Raymond

Tudo começou com uma experiência desconfortável. Em 1977, Roy Raymond entrou em uma loja de lingerie para comprar um presente para sua esposa, mas saiu de lá constrangido. O ambiente era frio, pouco acolhedor e pensado apenas para mulheres. Foi ali que surgiu a ideia que mudaria o mercado da moda íntima: criar um espaço elegante e convidativo, onde homens e mulheres pudessem comprar lingerie com naturalidade e prazer. Assim nasceu a Victoria’s Secret.
Por trás dessa ideia inovadora, havia a trajetória de um jovem com espírito empreendedor. Roy nasceu em 15 de abril de 1947, em Connecticut, e aos 13 anos já comandava seu primeiro negócio: convites de casamento em sua cidade natal. Formou-se em administração pela Tufts University e concluiu seu MBA em Stanford, em 1971. Antes da marca que o tornaria conhecido, trabalhou em empresas como Vicks e Guild Wineries, desenvolvendo sua sensibilidade de mercado.
Casado com Gaye Raymond e pai de dois filhos, Roy viu sua marca se tornar um fenômeno. No entanto, sua história teve um fim trágico: em 1993, enfrentando dificuldades pessoais e financeiras, tirou sua própria vida aos 46 anos. Apesar do desfecho triste, seu legado transformou para sempre o universo da lingerie.
Fundação da marca Victoria's Secret
A ideia nasceu de um incômodo real — e de uma visão ousada. Em 12 de junho de 1977, Roy Raymond, ao lado de sua esposa Gaye, inaugurou a primeira loja Victoria’s Secret no Stanford Shopping Center, em Palo Alto, Califórnia. Mais do que vender lingerie, Roy queria transformar a forma como esse produto era visto e comprado. Na época, comprar peças íntimas era constrangedor, especialmente para os homens.
As lojas tradicionais ofereciam ambientes frios e impessoais. Roy, com olhar empreendedor e sensível, criou uma loja com atmosfera elegante e acolhedora, onde qualquer pessoa pudesse comprar lingerie com naturalidade, prazer e confiança. Assim nascia a Victoria’s Secret: uma marca com alma, propósito e um novo olhar sobre a sensualidade.
Significado de Victoria's Secret
O nome "Victoria's Secret" carrega um charme enigmático e uma sofisticação atemporal — exatamente como a marca sempre quis ser percebida. Embora sua origem exata seja envolta em diferentes versões, todas elas apontam para uma mesma essência: elegância, mistério e feminilidade refinada.
Alguns relatos dizem que Roy Raymond se inspirou na Rainha Vitória, símbolo da monarquia britânica e ícone de classe e tradição. Outros acreditam que o nome remete à era vitoriana, marcada por uma estética romântica e imponente, que Roy buscou traduzir na arquitetura e ambientação das primeiras lojas.
E o “segredo”? Esse detalhe sutil no nome sugeria um toque de sensualidade discreta, quase sussurrada — um convite ao imaginário, ao desejo e à descoberta da beleza íntima de cada mulher. Assim, "Victoria's Secret" nasceu com uma promessa: revelar o poder por trás da delicadeza.
Crescimento e expansão
Nos primeiros anos, a Victoria’s Secret conquistou o público com sua proposta inovadora e sofisticada. O sucesso foi tão imediato que Roy e Gaye Raymond rapidamente expandiram o negócio com novas lojas físicas e um catálogo de vendas que se tornou icônico. No entanto, apesar da visão original, Roy enfrentou dificuldades em acompanhar as transformações do mercado e viu seus projetos paralelos não prosperarem. Diante da necessidade de uma gestão mais robusta e capital para crescer, decidiu vender a marca.

Em 1982, a Victoria’s Secret foi adquirida por Leslie Wexner, fundador da L Brands, por cerca de 1 milhão de dólares. Wexner enxergou o que poucos viam: um potencial extraordinário para transformar aquela marca elegante em um verdadeiro império da moda íntima. E foi exatamente o que ele fez.
Sob sua liderança, a marca se reinventou com campanhas ousadas, sensualidade refinada e um posicionamento global impactante. Na década de 1990, a Victoria’s Secret já era sinônimo de desejo, luxo e feminilidade poderosa. Suas coleções dominaram vitrines ao redor do mundo, enquanto os desfiles se tornavam eventos aguardados com entusiasmo e glamour.

A expansão não parou por aí. Em 1991, a marca lançou sua própria linha de fragrâncias — um sucesso imediato — e, com o tempo, incorporou roupas de banho, acessórios e cosméticos. Cada novo produto reforçava o universo aspiracional da Victoria’s Secret, capturando a imaginação de milhões de mulheres que buscavam se sentir confiantes, elegantes e irresistíveis em sua própria pele.
Transformação em marca global
O verdadeiro salto da Victoria’s Secret para o estrelato global aconteceu em 1995, com a estreia do icônico Victoria's Secret Fashion Show, em Nova York. Mais do que um simples desfile, o evento tornou-se um espetáculo anual que combinava moda, música e entretenimento — um verdadeiro show que encantava o público e celebrava a sensualidade com sofisticação. A cada nova edição, milhões de pessoas ao redor do mundo paravam para assistir às modelos mais deslumbrantes da indústria cruzarem a passarela com looks elaborados, encarnando a fantasia da marca.
Foi nesse contexto que surgiram dois dos maiores símbolos da Victoria’s Secret: as lendárias Angels, com suas asas grandiosas e presença magnética, e o cobiçado Fantasy Bra, uma obra de arte em forma de lingerie, cravejada de pedras preciosas. Esses elementos elevaram o desfile a um patamar de luxo e desejo jamais visto no segmento.

O sucesso foi estrondoso. Em 2015, a Victoria’s Secret detinha impressionantes 40% do mercado de lingerie dos Estados Unidos e registrava cerca de 7,7 bilhões de dólares em vendas anuais. A marca havia se tornado não apenas referência em moda íntima, mas também um fenômeno cultural, moldando padrões, tendências e o imaginário feminino ao redor do mundo.
Tradição do Fantasy Bra
Em 1996, a Victoria’s Secret selou seu lugar definitivo no imaginário do luxo e da fantasia com a criação do lendário Fantasy Bra — uma lingerie exuberante, confeccionada artesanalmente com diamantes, rubis, esmeraldas e outras gemas preciosas. Mais do que uma peça, o Fantasy Bra é um símbolo do ápice da sofisticação, da ousadia criativa e do glamour inatingível que a marca passou a representar.

A cada edição, uma Angel é escolhida para viver esse momento mágico na passarela — uma verdadeira coroação dentro do universo Victoria’s Secret. Supermodelos lendárias como Gisele Bündchen, Adriana Lima, Alessandra Ambrósio e Heidi Klum eternizaram essa tradição, desfilando com o brilho de verdadeiras joias sobre a pele. A aparição do Fantasy Bra rapidamente se tornou o momento mais aguardado do desfile, capaz de hipnotizar o público e gerar manchetes no mundo inteiro. Uma peça que vai muito além da moda íntima — é pura fantasia lapidada em pedras preciosas.
As Angels da Victoria's Secret
Introduzidas em 1997, as Angels se tornaram o verdadeiro símbolo da Victoria’s Secret — mais do que modelos, elas eram as embaixadoras do sonho, da confiança, do luxo e da sensualidade sofisticada. Com suas icônicas asas exuberantes, essas supermodelos transformaram o Victoria’s Secret Fashion Show em um espetáculo mágico, quase etéreo, onde moda e fantasia se encontravam em plena harmonia.
Nesse mesmo ano, Tyra Banks fez história ao se tornar a primeira modelo negra a assinar contrato com a marca. Seu impacto foi imenso: além de brilhar nas passarelas, ela estampou campanhas inesquecíveis e abriu portas para uma representatividade mais real e poderosa na indústria da moda. Tyra inspirou uma nova geração de modelos e reforçou que elegância e beleza existem em todas as cores.

Ao longo das décadas, nomes como Heidi Klum, Gisele Bündchen, Adriana Lima, Alessandra Ambrósio, Candice Swanepoel, Gigi Hadid, Barbara Palvin, Ashley Graham e Isabeli Fontana marcaram época como Angels. Cada uma delas trouxe seu estilo único, consolidando a imagem da Victoria’s Secret como uma marca que dita tendências e celebra a feminilidade em todas as suas formas.
Críticas e controvérsias
Durante anos, a Victoria’s Secret foi vista como sinônimo de glamour, sensualidade e padrão de beleza “perfeito”. No entanto, essa imagem também foi alvo de duras críticas. A primeira controvérsia pública ocorreu em 2002, durante o Victoria’s Secret Fashion Show em Nova York.
Quatro ativistas dos direitos dos animais invadiram a passarela segurando cartazes enquanto a modelo brasileira Gisele Bündchen, então com 22 anos, desfilava para a marca. O protesto, amplamente divulgado na mídia, trouxe à tona questões éticas relacionadas ao uso de peles e ao posicionamento ambiental da empresa.

Nos anos seguintes, as críticas se intensificaram em torno da falta de representatividade. Por muito tempo, a marca foi acusada de promover padrões irreais de beleza: corpos extremamente magros, jovens e predominantemente brancos. A ausência de modelos com corpos diversos, de diferentes etnias e identidades de gênero passou a ser vista como um retrato de exclusão, incompatível com os tempos modernos.

Em 2018, o então diretor de marketing Ed Razek fez declarações polêmicas ao afirmar que modelos transgênero e plus size não deveriam participar do desfile, pois “não faziam parte do fantasy” da marca. A fala causou revolta nas redes sociais e entre profissionais da moda, evidenciando a desconexão da marca com a nova geração de consumidores.
Em 2007, Muise relatou que rejeitou repetidamente as investidas de Razek e, como resultado, não foi escalada para o desfile do ano seguinte. Durante uma prova de roupa em 2018, Razek fez comentários inapropriados sobre os seios de Hadid e sugeriu que ela não usasse calcinha. Essas e várias outras alegações destacam um padrão de comportamento que contribuiu para a cultura tóxica dentro da empresa.
Escândalos e queda de reputação
Em 2018, a Victoria's Secret mergulhou em uma crise institucional. O então diretor de marketing Ed Razek causou indignação ao afirmar que modelos trans e plus size não deveriam participar dos desfiles, pois “não faziam parte do fantasy” da marca. As críticas à exclusão rapidamente se somaram a acusações de assédio feitas por modelos, que denunciaram comentários inapropriados e comportamentos invasivos durante provas de roupa.
A modelo Andi Muise revelou ter sido afastada do desfile de 2008 após recusar investidas de Razek, e Gigi Hadid foi alvo de comentários constrangedores durante uma prova em 2018. Esses relatos revelaram uma cultura corporativa tóxica que até então permanecia nos bastidores.
A situação se agravou em 2019, quando o fundador da L Brands, Leslie Wexner, foi associado ao criminoso sexual Jeffrey Epstein, abalando profundamente a imagem da empresa. No ano seguinte, em fevereiro de 2020, a marca anunciou o fechamento de diversas lojas e iniciou uma ampla reestruturação.
Em 2021, a Victoria's Secret foi vendida majoritariamente à Sycamore Partners, e em 2022, um documentário revelador reacendeu as discussões sobre os abusos e a falta de responsabilidade interna, pressionando a marca por mudanças reais e duradouras.
O polêmico documentário: Victoria's Secret - Angels and Demons

Em 2022, a Hulu lançou o documentário Victoria's Secret: Angels and Demons, dirigido por Matt Tyrnauer. Dividido em três partes, ele expôs os bastidores da marca e sua ligação com o financista Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual.
A série destacou a relação próxima entre Epstein e Leslie Wexner, então CEO da L Brands, revelando que Epstein tinha acesso às finanças de Wexner e ao círculo de modelos da marca. As revelações causaram indignação pública e aprofundaram a crise de reputação da Victoria’s Secret.
Outros problemas revelados
O documentário também trouxe à tona uma série de questões que contribuíram para a queda da imagem da Victoria’s Secret:
Padrões irreais de beleza: Modelos relataram a pressão constante por um corpo extremamente magro, o que alimentava padrões estéticos inatingíveis e prejudiciais à autoestima feminina.
Ambiente tóxico e misógino: Ex-funcionárias denunciaram uma cultura interna marcada por misoginia, assédio e comportamentos abusivos por parte de altos executivos, refletindo um ambiente corporativo longe do glamour que era exibido nas passarelas.
Crise de identidade: O afastamento do público, especialmente após os comentários excludentes de Ed Razek, revelou uma marca que havia perdido o contato com as mulheres reais — e, com isso, sua relevância no mercado.
O fim de uma era e uma nova direção
Em 2019, a Victoria’s Secret anunciou o fim de seu icônico desfile de moda, após uma queda nas vendas e a crescente cobrança por mais representatividade e autenticidade na indústria. Desde então, a marca busca se reinventar, apostando em campanhas que celebram a diversidade, a beleza real e a individualidade, aproximando-se de um público mais consciente.
Com novas direções e mudanças internas, a Victoria’s Secret iniciou seu renascimento — e o retorno do Fashion Show em 2024 marcou esse novo capítulo. Quer saber como foi esse espetáculo? Veja Victoria's Secret Fashion Show em 2024 e descubra os bastidores!

A evolução e o legado da Victoria's Secret
De símbolo máximo do glamour a um novo caminho de inclusão e autenticidade, a Victoria’s Secret segue em constante transformação. Entre altos e baixos, permanece como um ícone resiliente da moda íntima — agora com a missão de refletir a beleza real e plural. O futuro ainda é um mistério, mas o legado da marca já está eternizado.
Escrever sobre a Victoria’s Secret foi intenso e reflexivo. Nem tudo foi fácil de encontrar, e algumas polêmicas realmente me tocaram como mulher. Espero que o artigo te faça pensar também. Comente e compartilhe!
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